Meus versos são o escuro,
Iguais o livro de um muro,
São ilusões de um futuro
Que a gente vive a sonhar;
Imitar padres n'aldeia
Embalados na colcheia
Das cantinas do mar.
Meus versos são uma Ermida
Que o povo fê-la esquecida;
São como a terra ebulida
No desprender do normaço,
Flores sem nenhum perfume,
Amor que não tem ciúme,
Ou como o brando queirume
Se desfazendo no espaço.
Meus versos são caracóis
Calcimados pelos sóis,
Ou como alguns rouxinóis
Vagando errantes sem ninho,
São uivados de raposa,
Tristes como mariposas,
Irmãos gêmeos da esposa,
Que não possui mais carinho.
São iguais vinhas sem uva,
Sentimento de viúva
Ou simples gotas de chuva
Desfeitas num chapadão;
São casebres desprezados,
Corujões amedrontados
Ou recrutas isolados
Das ordens do batalhão.
Meus versos são como escadas
Pelos recantos quebradas,
São meretrizes magoadas
Lembrando o véu virginal;
São cidades sem ter luz
E cemitérios sem cruz,
Ou a lágrima que traduz
Um ato sentimental.
São como dor que suplanta,
Bosques que não tem mais planta,
Imitam voz de quem canta
Lamentos do coração
São pobres sem agasalhos,
Ou gotículas d'orvalhos
Que a noite deixou nos galhos
Dos laranjais do sertão.
Meus versos não tem delícias,
São trotes como notícias
Que roubam nossas carícias
Só deixando desventura;
São filmes sem ter estréia,
Ou abelhas sem idéia
Desprezadas da colméia
Porque não há mais doçura.
Meus versos não tem beleza;
São parentes de tristeza
De quem vê a correnteza
Seu casebre carregar,
São folhas apodrecidas
Da ramagem desprendidas
Sem viço e desprotegidas
Dos raios da luz solar.
Francisco Borges
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